As escolhas de cada um

Paris, 5 de Maio de 1992.

Uma atriz reclusa há muitos anos em seu apartamento, recebe a inesperada visita de uma diretora de cinema, que traz na bolsa um roteiro e promessas de fazer um filme que vai resgatar o passado glorioso de ambas.

Esta história poderia fazer algum sentido, se ambas não estivessem às vésperas do The end derradeiro, e se as mulheres em questão não fossem Marlene Dietrich e Leni Riefenstahl.

Inimigas declaradas, elas estiveram em lados opostos na maior parte de suas vidas. Com a ascensão do Nazismo, Marlene embarcou para a América e seguiu carreira em Hollywood, enquanto Leni tornou-se a cineasta preferida do Führer. Para Marlene, Leni corrompeu-se como pessoa, ao colocar seus serviços a favor de um regime cruel. Já Leni, acusa Marlene de corromper-se como artista, ao aceitar papéis em filmes medíocres que não passavam de entretenimento barato.

Marlene foi ao front, tornou-se o anjo antifascista, enquanto Leni era considerada a bruxa nazista. Os opostos eram evidentes não só no campo de batalha, mas também no papel desempenhado por estas mulheres nos filmes e na vida. Marlene era a liberal, a vamp andrógina, o produto de fantasias masculinas, enquanto Leni desempenhava papéis de menina ingênua, assexuada, que ao tornar-se diretora, produzia imagens de heróis.

Leni buscava o romantismo. Marlene zombava do amor ao declarar que “é preciso escolher entre ser feliz ou ser famosa”.

O texto de Thea Dorn é arrebatador. Impossível ficar indiferente a ele, mesmo que se viva e consuma outros tempos e compartilhe outra cultura. As contradições servem de munição para diálogos cortantes, para em seguida dar espaço a reflexões dramáticas e desconcertantes. Mesmo faces tão diferentes podem pertencer à mesma moeda. Perspicaz, irônico, feroz, ele se impõe porque fala de escolhas, responsabilidades e papéis que desempenhamos.

“Tudo na vida depende da linha de combate em que se abriu as pernas, Mädchen!! Declara uma irônica Marlene Dietrich.

Marlene sabia bem do que estava falando. Mesmo lutando contra o nazismo, foi considerada por muitos em sua terra natal como traidora da pátria e indesejável na Berlim que tanto amava. Pagou o preço por suas escolhas.

Já a perseverante Leni, gostaria de esquecer o passado e pensar no futuro.

Mas que futuro é este, quando se é refém do passado?

“Que culpa tenho eu de ter nascido neste século de merda?”, reclama Leni ao referir-se ao conturbado século XX, para em seguida confessar: “Procurei apenas o paraíso. Sempre procurei apenas o paraíso perdido”.

Apesar de realizar obras geniais, seu posicionamento político acabou com sua carreira.

Pois é, frau Riefenstahl, no céu ou no inferno, na terra ou no paraíso perdido, tudo na vida das mulheres depende da linha de combate em que se abriu as pernas.

Pensando bem, essa história parece fazer algum sentido.

Divirtam-se!

Liliana Sulzbach e Márcia do Canto

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